Vermelho é Dilma, azul é Aécio.
Fonte: VEJA 27/10/2014
Não é hora de união, e sim de oposição!
A presidente Dilma, em seu discurso de
vitória, disse estar preparada para o diálogo e que deseja a união em
favor da pátria. Tarde demais, “presidenta”. Nem sua roupa branca
convenceu, pois como disse Reinaldo Azevedo, a alma continua vermelha.
Essa “pátria” que você e seu partido desejam não é a nossa, da outra
metade que ama a liberdade e a democracia.
Apesar das palavras, que chegam muito
tarde e de forma oportunista após uma campanha nojenta de difamação, não
houve correspondência nos gestos. Aécio Neves, que lutou com dignidade,
sequer foi mencionado em seu discurso. E a primeira coisa que puxou da
cartola foi um plebiscito, bem nos moldes bolivarianos.
Aécio, por sinal, tentou vestir a camisa
de estadista derrotado, e disse que a “maior de todas as prioridades” é
unir o país. Há controvérsias. Tenho profundo respeito pelo candidato e
senador, especialmente depois desse combate. Lutou a boa luta. Mas terá
de aprender, junto com seu partido, a ser oposição de verdade. Agora
mais do que nunca.
Quem dividiu o Brasil, que fique bem
claro, foi o próprio PT. Sua campanha reforçou muito aquele discurso que
já vinha de longa data, de “nós contra eles”, de criar inimigos
fantasmas, como a “elite”, os “preconceituosos”, os “ricos incomodados
com a ascensão dos pobres”, etc. Agora querem falar em união? Só na hora
de passar o chapéu, ou melhor, de apontar uma arma e pegar nossa
carteira?
Sinto muito, mas não vai rolar. O país
está dividido, e não é hora de união. Que união é essa em que um lado
entra com o bolso e o outro com o populismo? O povo brasileiro está
rachado por que o PT rachou o povo brasileiro. E nunca ficou tão nítida a
divisão, entre aqueles que não ligam a mínima para a corrupção, e
aqueles que trabalham para pagar a conta dessa corrupção; entre aqueles
que não se importam com o autoritarismo, e aqueles que querem preservar a
democracia sólida.
Não sou daqueles que faz campanha contra o
nordeste, até porque estou no Rio, que vergonhosamente deu a vitória
para Dilma também. Mas é inegável que há uma divisão geográfica no país.
Basta olhar o mapa acima. E não sou radicalmente contra movimentos
pacíficos separatistas.
Afinal, como sabiam os “pais fundadores”
dos Estados Unidos, nação democrática com a mesma Constituição há mais
de 200 anos, o direito de secessão é uma prerrogativa legítima
justamente para preservar a paz e a democracia. O federalismo serve para descentralizar o poder e permitir o voto com os pés.
Tiradentes, não custa lembrar, tentou
exatamente isso, inspirado nas ideias iluministas. Queria Minas
independente da Coroa portuguesa. E hoje, se não somos mais súditos de
Portugal, somos de Brasília. A Inconfidência se rebelou contra o
“quinto”, e nós já pagamos “dois quintos” a fundo perdido para um estado
obeso e corrupto.
Dilma quer falar em plebiscito? Então por
que seria absurdo falar em plebiscito de segregação voluntária? Não é
melhor do que integração forçada? O Canadá já fez isso. A Escócia acabou
de fazer. Catalunha na Espanha deve fazer em breve. Se há uma clara
divisão, se um lado quer ser governado pelo PT, e o outro rejeita
veementemente o PT, não seria mais democrático dar o direito a cada um
de ser governado por quem deseja?
Sei que é inconstitucional e sei que não
vai acontecer. Não é também o que estou defendendo aqui. Estou apenas
chamando a atenção do leitor para o que realmente está em jogo: aqueles
que acusam os paulistas e sulistas de “preconceito” querem, no fundo,
que eles paguem a conta de sua demagogia, que explora a miséria e a
ignorância país afora, especialmente no nordeste pobre. Se esses locais
tivessem que pagar sozinhos a fatura, a história seria bem diferente. O
PT necessita da miséria e ignorância para ser eleito, e da riqueza de
baixo para pagar as contas.
Quero um Brasil unido. Quero ver o povo
que fala a mesma língua (ou quase) e desfruta das mesmas raízes junto,
lutando efetivamente em prol da pátria. Mas aí é que está o busílis da
questão: isso é impossível com o PT no poder. O PT é o partido da
discórdia, que semeia vento e colhe tempestade. E tem um projeto
autoritário de poder, inspirado nos bolivarianos, que a turma do sul e
boa parte do sudeste rejeitou claramente.
Que os tucanos, em vez de costurar uma
união com quem quer destruí-los, saibam fazer oposição de verdade. Até
porque o PT vai, agora, indicar mais ministros para o STF, e ao término
do mandato poderão ser dez apontados pelo partido de onze no total. No
passado, até petista de carteirinha sem qualificação técnica passou na
“sabatina” do Senado. Dormiram no ponto. Que estejam mais vigilantes
agora!
Rodrigo Constantino
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/democracia/nao-e-hora-de-uniao-e-sim-de-oposicao/
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